segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Carta de Ana Paula Tavares para Ondjaki

´´A tua carta arde-me lentamente na mãos e a queimadura é doce, como
quando lembramos um tempo antigo sem raiva e um sorriso doce
inicia o riso da nossa alma.

Todos nós somos de um lugar, como de uma infância, mas para se ser de um lugar
e de uma infância, é preciso escrevê-la...

As crianças no seu infinito´´faz de conta``, recusam o sonho partido ao meio
a meia água os lugares sombrios da vida.São mais água e não precisam perpetuar
o tempo em mausoléus, ou piramedes...Crescem pelos cantos e choram a mudança.
Gostam do sonho mesmo que este lhe rebente as mãos.

Por isso,meu caro...fizeste bem em convocar as vozes do antigamente que era
ainda ontem.Há adultos que se esquecem de crescer e andam sempre a misturar sonhos
com sal grosso para ver se explodem.As vozes são o que nos resta para ajudar a suportar
as cicatrizes que suportamos por dentro.Matéria inflável,´´Já se vê``.``_Ana Paula Tavares - (AvóDezanove e o segredo do soviético/Pág. 185,186)

Nenhum comentário:

Postar um comentário